sábado, fevereiro 25, 2012

O aborto de Dida

Dida chegou de madrugada, num ônibus que, atrasado, fez o trajeto João Pessoa/Brasília, em 36 horas. Chegou assustada em minha casa, no Guará 2, nunca tinha arredado pé da Paraíba e por isso mesmo estava deslumbrada com a capital do país. Era baixinha e de cara engraçada. Atarracada e falante, apresentou-se com facilidade e, a primeira vista, nos convenceu de que seria capaz da trabalhar como doméstica em nossa casa. O tempo provou que era tudo apenas uma possibilidade que não se cumpriu, pois Dida não tinha traquejo algum para as tarefas do lar. Cozinhava muito mal, faxinava pior ainda. Era uma perda de tempo insistir com sua mão de obra. Para complicar a história, no primeiro mês de trabalho, revelou-se grávida de alguns meses. Nessa época, trabalhávamos muito, eu a minha esposa, e em casa, a minha finada sogra sobre sua cadeira de rodas nos auxiliava na administração das coisas do lar com a ajuda de uma paraibana prenha e ruim de serviço. Um belo dia, atendo o telefone no trabalho. Era minha sogra desesperada tentando me convencer que Dida estava abortando a criança. Estava presa no banheiro ha horas, sangrando, ela me dizia. Ora, o que realmente acontecia, descobriu-se depois, é que Dida, na tentativa desesperada de evacuar, acabou com um enorme tronco de fezes ressequidas no meio do caminho, ou seja, metade da “tora” ficou do lado de fora do anel que impedira a passagem do resto. Sabe-se lá que tamanho teria o “semelhante” resto. Ao forçar a saída do míssil, gemendo em dores, sangrou e manchou o vaso de louça branca. Minha sogra interpretou como aborto aquela situação esdrúxula de um “toletão” engasgado num toba nordestino. Ela, mulher fina que era, impossibilitada pela própria deficiência de acudir a pobre Dida, que começou a chorar de dor, sugeriu que a coitada fizesse uma massagem em torno do ânus mas Dida não sabia o que era ânus, no que foi bem esclarecida em bom português. Após manipular as partes próximas ao cu, o cagalhão sentiu-se afrouxar o caminho e começou a deslizar, para alívio de Dida, e mergulhar na privada. O aborto inicial deu lugar a uma criança enorme, marrom, que encheu o vaso de mau cheiro. A expressão de alívio de Dida tinha mais a ver com a evacuação daquele poste do que propriamente a inexistência de um aborto real. Coisas da vida.

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