sábado, fevereiro 25, 2012

A história de Francesco - Auto-ajuda é tudo de bom

Numa pequena vila na região do Piemonte, vivia um jovem chamado Francesco di Pietro Paulo. Seu pai, Guido di Pietro Paulo, um próspero comerciante da região, negociava azeite de norte a sul da Itália, era um pio homem, cidadão do bem, generoso, crente, fiel, fraterno, inteligente, bondoso, enfim, um chatólatra de marca maior e destinado ao céu. Na vida desse homem bondoso, uma tristeza enorme: as mazelas físicas do pequeno Francesco. Nascera sem pernas, sem braços, coração para fora do corpo, hidrocefalia, um monstrinho. A riqueza do pai conseguiu recuperá-lo de algumas dessas trágicas situações, mas pernas e braços ainda não fazem parte de seu dia-a-dia. Certa feita, uma mulher que passava com seu filho nas proximidades da casa de Francesco, ouviu seu filho reclamar da vida. Dizia ele: Mainha, que preguiça danada. Essa vida é tão chata, mainha. Queria tanto um show de axé, mas não tem por aqui. Que tragédia, minha mãe. Ela, muito magoada com as reclamações do filho, lhe dizia: Pare com isso, Reginaldo Kleberson da Silva. Você tem braços, tem pernas, tem molejo, sabe a dança da garrafa, do carrinho, do pirulito vesgo, sabe as letras de Ivete, de Claudinha e de Brown, tem saúde pra dizer que tem preguiça, não pode reclamar da vida, menino. E deu-lhe um puxão de orelhas. Francesco di Pietro Paulo, que tudo ouvia, sentiu-se iluminado, pois servira de bom exemplo para Reginaldo Kleberson. O único problema em não ter braços e pernas, cria ele, era a dificuldade de coçar o rego em dias de calor. Isso sim era uma tragédia. Não tem coisa pior do que chamar alguém pra limpar seu rabo, depois de obrar, ele pensava consigo. E quando o serviço é mal-feito e sobram pequenas pelotas de massa fézica que, ressecadas, acabam unindo os pelinhos em torno do brioco? Isso sim é terrível, ele pensava, aquela vontade de evacuar, o tijolo saindo e puxando os pelos todos. Quer dor mais profunda que essa? Ser chamado de “cotoco” na rua não lhe apoquentava tanto quanto excitar-se e não satisfazer-se. Membro em riste e ele tendo que esfregar-se na parede, no colchão, no poste, no cão. Caos dos caos. Foi ouvindo essa história, há tempos, que eu comecei a perceber o quanto somos egoístas. É preciso, caro leitor, que você reconheça suas qualidades e seus defeitos. Você que tem braços, que tem pernas, que dança axé, do que está reclamando? Por essas e por outras é que eu rezo todas as semanas diante da TV, olhando o Padre Fulano Rossi encarar uma santa e, em transe, repetir indefinidamente palavras de ordem. Ah, fala que eu te escuto, seu boçal. É também por isso que entôo mantras e loas, de krishna e de Murti. Também por isso que freqüento centro espírita e terreiro de candomblé. Francesco di Pietro Paulo não sabe, mas é graças a ausência de suas pernas e braços, que me dá um prazer enorme quando lavo a bunda ou quando, discretamente, coço o cu.

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