quinta-feira, agosto 16, 2007

Um Convite




Goya, O sonho da razão produz monstros.


Não durmamos
Não, não nos deixemos inebriar pelo sono mal
Abramos os olhos para a noite escura e tudo enxergaremos
Vamos, sem medo, sem pressa, ofuscarmo-nos com toda a possibilidade
de sermos felizes e despertos e atentos,
pois a felicidade é, mesmo tristes, sabermos seus limites
seu alcance, seu fôlego e a dimensão de tudo isso.
Vem, eu te convido.

Há os felizes que dormem o sono dos mansos
e se embebedam com o vinho da auto-suficiência
escorregam feito caracóis, lentos e lúbricos, em torno de umbigos enormes.
Não os invejemos, mas lamentemos a formidável sorte.
desses ébrios estúpidos que confundem felicidade com facilidade

Acordemos todos e percebamos o quão tristes estamos – não somos! -
Quando a felicidade que temos é nossa apenas
Quando o sorriso que trazemos não se expande e, murcho, amarela na raiz
Quando o que nos faz vibrar não tange aqueles corações que seguem mudos
Quando a brisa que nos bafeja não refresca o corpo irmão
Quando os anjos que nos cantam olvidaram outros espíritos
Quando somos sós e sós e sós e não partilhamos o raro instante
e nos deixamos tentar pela linha reta dessa vida tortuosa e vária.

Não existe felicidade individual se estamos despertos
Mas tampouco é felicidade aquela que a noite do mal escuro alimenta e entorpece
Vamos, não tema, vem depressa...corre!
Não durmamos, pois o carro da história não espera e nem ampara os que dormem
E não te quero ver sumir no horizonte quando a felicidade apontar no sem-fim dos trilhos.



Leonardo Almeida Filho
15/08/2007